Sinto um grito arrepiante. Não o ouço, sinto-o. Não sei de onde vem, mas associo-o a ti. Tem o teu timbre, o teu sabor, o teu cheiro.
Há muito que deixei de te ouvir, felizmente. De te ouvir, de te cheirar, de te ver. Há muito que deixei de pensar em ti, que te soltei de mim, que te deixei ir. Há muito que deixaste parte do meu ser mas nunca deixei de te sentir.
Nunca encontrei uma explicação lógica, mas ainda te sinto.
E pior do que te sentir é saber que te sinto. É saber que nunca saíste definitivamente de dentro de mim. É saber que, independentemente do que faça para o evitar, nunca deixei de pensar em ti.
É viver vulnerável a qualquer gesto teu. Na ânsia e no medo de te deixar de sentir.
De viver nesta aparente contradição.
É viver assim.
E gostar.
